A manhã já ia longe quando acordei, ao meu lado, estava a minha eterna companheira, a minha avó.
- Bom dia - lancei um sorriso de orelha a orelha.
- Que saudades desse sorriso! - fez-me a sua típica festa na cara e um beijo na testa.
- Acho que preciso dum bom banho - levantei-me da cama um pouco apreensiva mas não houve tonturas nem nada do género. - e não avó, não preciso nem quero ajuda. - sorri.
Saí em direção à casa-de-banho daquela enfermaria partilhada com mais três crianças e um idoso com a roupa lavada debaixo do braço e tomei um banho rápido.
Não era adepta de banhos rápidos, mas este soube-me especialmente bem. A água a cair pela minha pele, fez-me sentir viva, como se a vida me tivesse dado uma segunda oportunidade.
Vesti-me e fui novamente até ao lugar onde estava a minha cama, deitando-me de seguida.
- Vou ficar aqui durante muito mais tempo? - perguntei ao médico que estava a auxiliar um menino da cama ao lado da minha
- Não menina - respondeu-me com toda a serenidade do mundo - amanhã terá alta, hoje fica para que os médicos neurologistas avaliem os seus exames e para tratar das últimas burocracias - informou-me detalhadamente.
Fiquei contente ao ouvir essa maravilhosa notícia, não pude deixar de sorrir.
Esse sorriso desvaneceu-se ao ouvir um grande alvoroço à porta do "meu quarto".
Olhei confusa para a minha avó e ela para mim, partilhava comigo a ignorância de não saber o que se estava a passar.
- Podemos? - espreitou pela porta uma senhora com um gorro do pai natal.
As crianças que havia naquele quarto mostraram o entusiasmo característico quando vários rapazes entraram pela porta com um saco cheio, visivelmente de presentes.
Começo a prestar atenção e foco bem o meu olhar no fato que traziam vestido... equipamento de saída do Sport Lisboa e Benfica, o clube do meu coração.
Pela porta pude reconhecer perfeitamente os três atletas destacados: Rodrigo, Cardozo e ... o meu coração parou com tal beleza.
Aquele sorriso fez fervilhar o sangue que me corria nas veias e acelerar fortemente o meu coração.
Agradeci mentalmente por não ter nenhuma máquina ligada a mim.
Começaram a entrar e a partilhar momentos únicos no mundo tão limitado daquelas crianças, oferecendo-lhes prendas, posando para fotos e dando autógrafos.
Por último fiquei eu, à medida que os via aproximar ia ficando mais nervosa.
Os primeiros foram o Rodrigo e o Cardozo.
- E aí garota, qué qui cê tem? - perguntou duma forma descontraída e cómica, o que me levou a rir.
A minha avó acompanhou-me.
- Tive um acidente na escola acabei por ficar em coma algum tempo.
- Então diz-me, és do Benfica? - agora foi a vez do Cardozo intervir.
- Claro que sim! Desde que nasci, sou adepta, sócia, simpatizante e seguidora. - sorri.
- Então 'cê acabou de acordar bem a tempo dji ver o Benfica sendo campeão - a gargalhada foi geral o que despertou a atenção do Pablo.
- Que se passa de tão engraçado? - perguntou curioso.
- Esta benfiquista tem piada - piscou-me o olho.
- Piada mas não tem prenda... são mini kits - uma sensação de constrangimento sobressaiu-lhes na cara.
- Não se preocupem com isso, gostei destes minutos - lancei um sorriso reconfortante.
Uma senhora entra no quarto e dá-lhes indicação para continuar a visita. Eles acenam com a cabeça e dirigem-se à porta do quarto.
Pisquei o olho à minha avó, feliz.
Vi-os abandonar aquela divisão à exceção do Pablo, que hesita e volta para trás.
- Não tenho prenda, mas não podes ficar sem uma lembrança - levou a mão ao pulso e retirou uma pulseira de couro que usava.
- Posso? - pediu-me e a minha avó arregalou os olhos deixando-me sair daquele transe que estava.
Abanei afirmativamente a cabeça e ele colocou-ma.
- Obrigado, não era necessário, não abusando posso pedir-te uma foto?
- Claro que sim! - abriu aquele extraordinário sorriso e posámos para a foto que a minha avó nos tirou com o meu telemóvel.
Como irá ficar esta visita?